Falar sobre os 50 anos da Afece estando aqui há apenas 2 é uma responsabilidade enorme. Nunca tive contato direto com pessoas com deficiência antes de entrar na instituição, tinha ouvido o básico sobre inclusão na escola e na faculdade, sabia que era um assunto importante, mas não imaginava as dimensões disso.
Lembro até hoje como foi chegar aqui, na ruazinha não asfaltada que, de início, faz as pessoas se perguntarem “onde estou indo?” mas que, 50 passos depois, revela de longe as instalações desse lugar que mudaria minha vida.
Tudo aqui era diferente, a começar pelo comportamento acolhedor dos colaboradores. Eu havia trabalhado em grandes corporações antes daqui e, não que na Afece as coisas não sejam sérias (longe disso), mas era fácil notar o quanto o rosto das pessoas trazia um aspecto mais leve e descontraído se comparado a meus antigos empregos. Já gostei de cara, mas, só mais tarde pude entender o porquê disso: quando tive meus primeiros contatos com os atendidos. São diversos os diagnósticos por aqui, mas todos têm em comum o fato que diz respeito a serem tratados como “deficiência da alta especificidade“, ou seja, todos têm um alto grau de comprometimento cognitivo. Boa parte dos alunos não verbaliza e, entre os que verbalizam, pouquíssimos conseguem estabelecer um diálogo.
E, sabe o que é mais incrível partindo disso? A quantidade de sorrisos que você encontra diariamente por aqui. As lições sobre “valorizar as coisas pequenas” que nos dão são esmagadoras, porém, extremamente necessárias. Afinal, como posso eu, tão “independente” e de fisiologia “completa“, ficar triste ou aceitar um dia ruim ao ver aquela pessoa com suas intensas especificidades sorrindo calorosamente?
Trabalhar na Afece é mais que um emprego, é uma escola de vida. Costumo dizer que entrei aqui porque precisava de um emprego, e hoje permaneço aqui porque preciso desse lugar e das pessoas que aqui estão. Temos milhares de dificuldades diárias no âmbito profissional, principalmente no que diz respeito a “recur$os” e na quantidade de profissionais (em uma “ONG”, não importa se você é contratado pra cuidar do marketing, você vai limpar o chão e fritar pastel se preciso for)… mas até isso é um aprendizado. Aprendemos como tirar leite de pedra aqui, aprendemos como ser inventivos para contornar crises e, principalmente, a planejar ações com orçamento mínimo ou nulo.
Na Afece, aprendi que realmente existem pessoas que acordam todos os dias para fazer o bem sem olhar a quem, de forma transparente e gentil, e que isso é uma relação mútua… afinal, trabalhar aqui sem medir esforços pra ver os atendidos bem traz uma sensação confortante e indescritível que só pode ser entendida por quem o faz!
(Escrito por um colaborador da equipe de Captação de Recursos Afece).